EN-C 2 Linhas - Mais Performance para Todos

E eis que, mais de 3 anos após a ousada iniciativa da SOL Paragliders (BRA) de lançar uma vela dedicada aos pilotos intermediários usando a tecnologia 2 linhas (LT1), o mundo do parapente agora está assistindo ao início de uma onda de fabricantes buscando entregar um produto certificado EN-C 2 linhas ao mercado.

À época do lançamento do LT1, a norma CEN - EN-C não suportava o teste de parapentes 2 linhas - o que só em 2022 foi atualizado para tal.

Um Breve Histórico

A tecnologia 2 linhas já se consolidou e comprovou seu valor tanto em matéria de performance quanto de estabilidade. A Ozone estreou a tecnologia no final de 2009, com seu controverso BBHpp, e a consolidou com seu incomparável R10.2 (2010). Eu comecei a voar velas duas linhas em 2010/11, com o TR2 (SOL Paragliders). Naquela época todas velas eram protótipos testados apenas pelos pilotos das fábricas e todas apresentaram uma patologia muito sinistra e que, inclusive, levou ao banimento das velas Open Class (Não Certificadas - 2 ou 3 linhas) de competições oficiais FAI - em alguns casos as velas, após um colapso frontal, colavam a galeria A à galeria B e não mais se conseguia abrir a vela para retomar o voo.

Com essa decisão de restrição, um grupo de trabalho foi composto pela FAI/CIVL-Fabricantes-Air Turquoise(Para-Test) e se estabeleceu uma nova classe de certificação de parapentes, a CCC (CIVL Competion Class). Pouco depois, com o constante aprimoramento dos projetos de parapentes 2 linhas, a norma EN-D foi atualizada e passou a suportar até mesmo velas 2 linhas.

Bem, e com mais de 12 anos de testes, experimentações e evolução dos projetos 2 linhas, agora em 2022 a norma EN-C sofreu uma nova atualização que possibilitou os testes de velas 2 linhas para certificação nesta classe - liberou-se a utilização de linhas de colapso para simular fechadas (não se consegue simular um colapso em velas 2 linhas sem linhas adicionais de colapso).

O Futuro Chegou

No início de 2022 a fabricante austríaca Air Design, fundada pelo piloto e campeão mundial (1993) de parapente Stephan Stiegler, foi a primeira a apresentar um projeto para certificação na atualizada norma CEN EN-C com 2 linhas.

Seu parapente 2 linhas voltado aos pilotos intermediários, o VOLT 4, foi apresentado e certificado com sucesso pela Air Turquoise (Para-Test). As impressões nos testes superaram as expectativas.

A Air Design se especializou e se mantém focada em parapentes de baixo peso para uso em todas as modalidades de voo livre, desde a escola até longos voos de distância, bivouac, hike and fly... tudo. Com o VOLT 4 a Air Design demonstrou muita confiança nos projetos 2 linhas para pilotos intermediários e, pelos relatos e vídeos disponíveis na internet, parece que conseguiram entregar uma vela realmente muito dócil e adequada ao público a que se destina.

O Pioneiro Voltou

A SOL Paragliders não perdeu tempo e, com uma revisão do projeto do LT1, também apresentou seu LT2 para certificação. O LT2 foi testado e aprovado com sucesso para a categoria EN-C.

Além de mais de 12 anos de experiência com projetos 2 linhas com o TR2, a SOL já tinha mais de 3 anos de experiência com uma vela 2 linhas de baixo alongamento com o LT1.

Recentemente o Ziad Bassil, do blog Dust Of The Universe, fez seus voos e comparativos com o LT2 e causou muito burburinho pelo excelente feedback que emitiu em seu review.

Agora é Briga de Gigantes

Pois bem, a SOL Paragliders ousou experimentar o conceito, a Air Design estreou a certificação e, agora, as gigantes do mercado já reconhecem que EN-C 2 linhas é um caminho sem volta e todas as marcas se movimentam para ter sua versão disponível para o mercado.

A toda poderosa Ozone acabou de anunciar o Photon, que deve ser lançado oficialmente na Stubai Cup, em Março próximo. Apesar de ser um novo projeto, que já nasce com um pedigree de muito respeito no mundo dos projetos de 2 linhas, o que mais está chamando a atenção nos novos lançamentos da Ozone é a presença de winglets (aletas no extradorso da vela), antes presentes somente em velas da Advance.

Vantagens x Mitos

Um comentário que gostaria de fazer para todos os interessados em experimentar ou comprar uma nova vela EN-C 2 linhas é que, de fato, não significa que uma vela EN-C será superior a outra apenas por que tem 2 linhas.

Um parapente eficiente é composto pelo design do aerofólio, mapa de linhas, material utilizado e qualidade de construção. O conjunto mais equilibrado terá mais vantagem e não apenas o equipamento com uma ou outra destas características superiores.

Uma vela EN-C 2 linhas irá demandar um piloto com melhores habilidades de pilotagem para voar com segurança e performance. Toda vela 2 linhas transmite uma sensação de estabilidade muito maior que uma 3 linhas e isso pode ser confundido facilmente com baixa demanda de pilotagem... errado. Não se engane.

Agora, o que de fato faz toda diferença entre um projeto 2 linhas e um 3 linhas é o voo acelerado. Ao se acelerar uma vela 3 linhas, entra em funcionamento um complexo funcionamento dos tirantes na busca por uma inclinação homogênea e regular do aerofólio, o que muitas vezes não funciona tão bem por toda a extensão do sistema de aceleração. Já ao se acelerar uma vela 2 linhas, o que acontece é um simples movimento de balança, o que permite uma homogênea e regular inclinação do aerofólio sem deformações não previstas.

Adicionalmente, o controle do voo (acelerado ou não) pelos tirantes B é muito mais direto e eficaz do que o controle pelos tirantes C. Ou seja, uma vez que, no voo de performance, buscamos voar cada vez mais tempo usando o sistema de aceleração, o tempo de voo em que uma vela EN-C 2 linhas terá mais vantagens sobre uma 3 linhas realmente é grande.

Então, se você quer uma vela intermediária com capacidade de entregar um pouco mais de performance, a opção 2 linhas pode te atender. Só não se esqueça de que para isso você precisa usar bem e muito intensamente o sistema de aceleração e aprender a controlar seu parapente pelos tirantes B.

Bons e seguros voos a todos!